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domingo, 27 de setembro de 2015

JOURNAL CLUB IBA: SERÁ QUE O LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO SE DESENVOLVE QUANDO CÉLULAS B RECONHECEM SEU PRÓPRIO RNA?


O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença autoimune no qual o principal alvo do sistema imunológico é o material genético do paciente. E como o próprio nome sugere, o LES é uma doença sistêmica, pois culmina no desenvolvimento de diversas patologias em diferentes órgãos, tais como rins, articulações, coração e pulmão, devido à deposição excessiva de complexos imune nestes tecidos. Deste modo, as células B são as principais responsáveis pelo desenvolvimento desta enfermidade, uma vez que são as responsáveis pela produção de anticorpos (contra o DNA/RNA, neste caso). O desenvolvimento do LES está intimamente relacionado com a genética do indivíduo, já sendo documentado que mutações pontuais em determinados genes codificantes de proteínas do sistema imunológico estão relacionados com a patologia (Ghodke-Puranik e Niewold, 2015). Dentre estes genes, já está bem estabelecido na literatura que a super-expressão de TLR7, decorrente de mutações pontuais em sua sequência gênica, está intimamente relacionada com a patologia. Deste modo, o reconhecimento de simples-fita de RNA, por este receptor endossomal, tem como principal produto o Interferon-α, citocina chave na cronificação da inflamação observada em pacientes acometidos por LES. Consequentemente, o modelo experimental de LES concentra-se na utilização de animais geneticamente modificados que super-expressam TLR7. Crescentes são as evidências de que a macroautofagia (processo no qual componentes celulares são sequestrados, em uma vesícula denominada autofagosomo, degradados após a fusão com lisosomos, autolisosomos) participa da resposta imune frente a diferentes estímulos. Em relação às células B, este processo está relacionado com seu desenvolvimento e sobrevivência, bem como sua ativação e diferenciação em células B produtoras de anticorpos (plasma cells). Portanto, a hipótese levantada por Weindel e colaboradores (2015) foi: será que autofagosomas  em células B são os responsáveis pela a iniciação do LES por facilitar o ”delivery” de auto-antígenos, i.e, RNA presentes no citosol, ou até imunocomplexos de RNA endocitados, para TLR7 presente nos endosomas?
O modelo experimental do grupo consistiu basicamente no uso de camundongos que super-expressam TLR7 (Tlr7.1 tg), os quais desenvolvem LES espontaneamente. A fim de se estudar a autofagia especificamente em células B, foi desenvolvido um camundongo que não possui a expressão de ATG5 (proteína chave na formação do autofagosomo) somente em suas células B Tlr7.1 Tg: Cd19-cre+/- : Atg5f/f (ATG5 BKO). Logo na primeira figura do artigo, o grupo evidenciou que sim, a autofagia em células B está intimamente relacionada com a indução e pior prognóstico da doença ao ser constatado o aumento de 55% na sobrevida dos animais ATG5 BKO ao longo das 60 semanas de experimentação animal. Outro dado bastante curioso foi a ausência de auto-anticorpos contra DNA e RNA nos animais ATG5 BKO.Tais animais não apresentaram significativa deposição de complexo imune nos glomérulos, bem como apresentaram significativa redução do infiltrado inflamatório renal e hepático. Foi constatado também que a autofagia em células B é crucial para a indução de diversas citocinas pró-inflamatórias, dentre elas IFN-α, mediador intimamente relacionado com LES, conforme mencionado anteriormente, além de ser muito importante para a sua ativação, ao ser evidenciado que animais Tlr7.1 tg possuem elevada frequência de células B CD69+ no sangue, bem como a maior fuga de células B da zona marginal do baço. 


Figura 1: A indução de LES depende da ativação de TLR7 de maneira “autofagia-dependente” em células B. RNA endógeno, ou até mesmo endocitado, pode estar relacionado com a ativação de TLR7 de maneira dependente de ATG5, e dar início ao desenvolvimento de LES ao induzir a produção de IFN-α e auto-anticorpos. 

Referências:

 Post  de Andressa Fisch e Mikhael Haruo (doutorandos FMRP-USP/IBA).




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