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sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A microbiota como ferramenta no diagnóstico e prognóstico de doenças inflamatórias crônicas


Autora: Liliane Martins dos Santos - pós doutora CAPES/BJT no Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG      

               A artrite reumatóide é uma doença auto-imune sistêmica cuja causas ainda não são bem conhecidas o que torna mais difícil a criação de terapias bem sucedidas. Sabe-se que uma combinação de fatores genéticos e ambientais estão envolvidos na etiologia da artrite reumatóide. Recentemente estudos em modelos animais têm sugerido um papel para a microbiota intestinal na indução da resposta imune necessária para o desenvolvimento da inflamação característica nas articulações. Por exemplo, camundongos sem germes ou tratados com antibióticos são menos suscetíveis a indução de artrite reumatóide. A colonização de animais sem germes com bactérias segmentadas filamentosas (SFB) ou Lactobacillus bifidus é suficiente para induzir a doença nesses animais por aumentar a resposta de células Th17 e inibir a função de células T reguladoras, respectivamente (Wu et al., 2010; Abdollahi-Roodsaz et al., 2008). Além disso, em outro estudo a bactéria Prevotella copri mostrou-se mais abundante em pacientes com artrite reumatóide e foi correlacionada com a perda de microrganismos benéficos no trato gastrointestinal desses indivíduos (Scher et al., 2013). 
           Em um estudo publicado este mês na Nature Medicine # os pesquisadores analisaram o perfil da microbiota oral e intestinal de indivíduos saudáveis e pacientes com artrite reumatóide. Análise metagenômicas revelaram disbiose da microbiota nos pacientes e o tratamento com clássico com DMARDs (medicamentos modificadores do curso da doença) foi capaz de parcialmente reverter as alterações observadas. O mais interessante é que os pesquisadores conseguiram separar pacientes de indivíduos saudáveis a partir das diferenças do microbioma. Essas mudanças foram correlacionadas com medidas clínicas como os níveis de Proteína C Reativa e de auto-anticorpos. Particularmente, o gênero Haemophilus foi associado com pacientes saudáveis enquanto Lactobacillus salivarius encontrou-se aumentado em pacientes com a doença ativa. As alterações no microbioma também foram associadas com a resposta dos pacientes ao tratamento permitindo a predição e avaliação do efeito dos medicamentos. Seria interessante agora avaliar se esses microrganismos específicos estão de fato envolvidos na etiologia da doença. No futuro o desenvolvimento de métodos que sejam capazes de seletivamente eliminar apenas um micróbio dentre toda a complexa microbiota poderiam constituir terapias muito mais eficazes para a artrite reumatóide.

Modelos animais que demostram a importância da microbiota
no desenvolvimento da artrite reumatóide (Scher and Abramson, 2011)

  Wu HJ, Ivanov II, Darce J, Hattori K, Shima T, Umesaki Y, Littman DR, Benoist C, Mathis D. Gut-residing segmented filamentous bacteria drive autoimmune arthritis via T helper 17 cells. Immunity, 2011.
  Abdollahi-Roodsaz S, Joosten LAB, Koenders MI, et al. Stimulation of TLR2 and TLR4 differentially skews the balance of T cells in a mouse model of arthritis. The Journal of Clinical Investigation. 2008.
  Scher JU, Sczesnak A, Longman RS, Segata N, Ubeda C, Bielski C, Rostron T, Cerundolo V, Pamer EG, Abramson SB, Huttenhower C, Littman DR. Expansion of intestinal Prevotella copri correlates with enhanced susceptibility to arthritis. Elife, 2013.
  Zhang, X et al. The oral and gut microbiomes are perturbed in rheumatoid arthritis and partly normalized after treatment. Nature Medicine, 2015.
   Scher JU, Abramson SB. The microbiome and rheumatoid arthritis. Nature Review Rheumatology, 2011.


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