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domingo, 23 de novembro de 2014

Journal Club IBA: A acetilCoA carboxilase 1 (ACC1) regula o desenvolvimento de células Th17

Figura 1. A via lipogênica regula a diferenciação de células Th17

Mudanças na disponibilidade de nutrientes ou de oxigênio, assim como a ativação por estímulos como o TCR induzem mudanças metabólicas nas células T, gerando um impacto na diferenciação e proliferação da célula. A reprogramação metabólica da célula durante a proliferação foi observada inicialmente em células tumorais. Warburg (1956) observou que as células tumorais apresentavam um aumento na taxa glicolítica, sendo essa via a principal via de geração de energia para a célula. Em 2011, Mickalek e colaboradores, também observaram que as células T efetoras, quando ativadas, apresentam uma maior taxa de glicólise, quando comparadas com as células Treg. Em tanto que durante a diferenciação de Treg há um aumento da oxidação de lipídeos associado com aumento de AMPK (um sensor da relação de AMP/ATP). O metabolismo de lipídeos é uma fonte importante de energia para a célula, mas o papel dessa via no programa de ativação e diferenciação de célula T ainda não estava bem elucidado. No entanto, Kidani e colaboradores (2013) mostraram que células T ativadas com PMA + Ionomicina tinham aumento na expressão de a acetilCoA carboxilase 1 (ACC1), enzima responsável pela síntese de ácido graxo, a partir de acetilCoA. Além disso, um estudo de 2014 mostrou que na ausência da ACC1 houve diminuição na acumulação de células T ativadas antígeno específicas no baço de camundongos infectados com Listeria monocytogenes (Lee et al., 2014). Mas qual seria o papel da ACC1 na diferenciação de células Th17?
Para direcionar essa pergunta Berod e colaboradores (2014) mostraram que células T deficientes para ACC1 (TACC1), apresentam um desvio metabólico importante que refletiu na mudança da polarização desta célula para o perfil regulador funcional, mesmo sob condições para diferenciação Th17 (Figura 1). Ao inibir a síntese de ácidos graxos observou-se uma redução de vias com a glicólise e a glutaminólise, as quais são importantes para a proliferação de células T. Tal desvio metabólico provocado pela ausência da síntese de ácidos graxos culminou também na redução da diferenciação das demais células T efetoras.
Interessantemente este artigo demonstrou que as Tregs utilizam os carbonos oxidados da glicose para fazer aminoácidos derivados do ciclo de Krebs, ao passo que células Th17 utilizam estes carbonos para síntese de ácidos graxos. Ao deixar de ser lipogênica (intervenção farmacológia ou genética), uma célula Th17 perde todas as suas características metabólicas, o que compromete sua diferenciação e função, no entanto, uma vez que esses ácidos graxos são repostos em cultura, sua diferenciação é restabelecida.
Por fim, o autor demonstra que a inibição farmacológica de ACC1 (SorA) pode ser vantajoso para uso em doença inflamatórias, como no modelo experimental de EAE, no qual o uso de SorA retardou o desenvolvimento de EAE, por aumentar infiltrado de Tregs e reduzir Th17 no sistema nervoso central. Por isso este trabalho especula a possibilidade de intervenções que possam alterar o perfil metabólico de células T, levando a um desvio de polarização e função das mesmas.

Post de Paulo Henrique Melo e Annie Piñeros (doutorandos IBA - FMRP/USP).

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