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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Retrospectiva 2013 - intertextualidade e metaciência: papéis entrelaçados na vida real, na ficção e na Imunologia

                                                    Além do horizonte... por dentro e por fora...

Virada de ano, momento para reflexões e planos para o ano que se inicia. Confesso que ia escrever sobre um artigo científico e uma palestra que vi na reunião da SBI, mas pretendo refletir um pouco mais além e profundamente sobre o período que se passou nos últimos 365 dias (se fosse no vestibular, os referees me dariam Zero por “fuga do tema”). Minha mente volta no tempo de 1988, quando acompanhei pela primeira vez o desfile das escolas de samba no carnaval do Rio, pela TV, e senti uma indescritível exaltação com aquele samba profético do então campeão Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, e que se tornaria emblemático. Eu tinha apenas 9 anos de idade. O Brasil comemorava 100 anos de abolição da escravidão.
Apesar dos avanços, ainda caminhamos rumo à liberdade 100% que seria cantada no ano seguinte pela Imperatriz Leopoldinense, nas comemorações do centenário da República, e cujo “hino” foi celebrado na abertura da novela “Lado a Lado”. Esta ganhou recentemente o Prêmio Emmy de Melhor Telenovela no mundo todo (ramo de atividade aliás, em que os brasileiros são campeões há tempos). “Liberdade, Liberdade, abre as asas sobre nós” com certeza deu um glamour a mais no conjunto dessa obra premiada, que retratou desde momentos da Revolta da Chibata à Revolta da Vacina, com o nosso ilustre Oswaldo Cruz lutando para implantar a vacina e diminuir a incidência da febre amarela, dentre outros feitos. A novela ilustrou também a incorporação do negro no futebol brasileiro, que até então era proibido de participar. A partir de 1962, o Brasil jamais seria superado (no máximo, empatado) nesse esporte e arte, pois como todos sabem, só o Brasil é pentacampeão. E pode vir a se tornar cada vez mais insuperável do que nunca em seu próprio solo, com a realização da Copa de 2014, já que Itália e Alemanha podem se tornar no máximo tetracampeões.
Vinte e cinco anos depois, a Unidos de Vila Isabel novamente se sagra campeã com um enredo mais do que atual: o Brasil que cresce no interior do país, e longe das grandes metrópoles e capitais. Coincidentemente ou não, esse foi o tema especial do Jornal da Globo no dia 01/01/2014 (refiro-me ao crescimento, não ao samba-enredo). Nesse noticiário, falou-se muito sobre agronegócio, além de oportunidades no litoral do Nordeste, mas pouco ou nada sobre ciência e tecnologia como molas propulsoras do desenvolvimento nacional... Em vez disso, deu-se ênfase à falta de infraestrutura e falhas de logística, que junto com a excessiva carga tributária, dificultam a vida do brasileiro, seja como cientista, empreendedor ou simplesmente um cidadão comum. Em tempo: o GRES Unidos de Vila Isabel havia sido convidado pra animar a virada do ano na praia de Copacabana, como é de costume por ser a campeã do último carnaval. E ainda há muitos que não entendem o papel da cultura para o desenvolvimento da nação, nem porque a Vila Isabel foi convidada. É preciso mais paciência... e para a ciência também... 
E o que isso tudo tem a ver com a Imunologia? Ninguém melhor do que Nelson Mandela pra nos ensinar um pouco de tolerância (inclusive a tolerância do sistema imune). Alguns céticos (extremos) torcem o nariz pra essa ideia, mas se pensarmos que cada indivíduo é para a sociedade o que cada célula é para o corpo humano, ficaria mais fácil entender. Há tempos, os economistas já utilizam conceitos de Darwin, evolução e biologia de sistemas, o que já não é mais especulação e passa a ser considerado ciência. Assim, desse ponto de vista, a intolerância é um câncer que, como tal, deve ser combatido. Sobre Tolerância e Câncer escreverei no meu próximo post para o blog.
Certamente Nelson Mandela teve um papel crucial não só no fim do Apartheid, o câncer do ódio e da segregação racial, em seu próprio país, como lutava pela liberdade de povos segregados de outros países, como os palestinos. Provavelmente foi aquele samba-enredo profético que fez Mandela, o Zumbi dos Palmares da era moderna, desejar conhecer Martinho da Vila em sua visita ao Brasil, há alguns anos. Neste ano de 2013, Mandela se uniu a Zumbi dos Palmares e aos sacerdotes do bem e da liberdade. "Valeu, Zumbi, o grito forte dos Palmares... e que o Apartheid se destrua!"
Torcemos para que 2014 seja o ano da virada, não somente cultural e esportiva-futebolística, mas também no campo da liberdade e independência científica e tecnológica. Sabemos que isso não acontecerá do dia pra noite, mas já fazemos alguns produtos em solo nacional, como anticorpos monoclonais, insulina, vacinas, produtos de coagulação para hemofílicos e outros medicamentos e reagentes. Creio que o Projeto Imunologia nas Escolas, pensado inicialmente como um projeto a longo prazo, contribui nesse sentido, e já tem resultados imediatos, como a aluna premiada com bolsa para estudar nos EUA, dentre outros. Portanto, para fazer ciência da melhor qualidade, é preciso superar as barreiras burocráticas e alfandegárias, que vão além do controle e poder dos cientistas, se quisermos avançar a passos mais largos. A Imunologia brasileira tem o seu reconhecimento no cenário internacional, com a eleição de Jorge Kalil como presidente da IUIS, em agosto passado, no último congresso internacional em Milão. E finalmente, o primeiro Keystone Symposium sobre Vacinas realizado no Brasil aconteceu no Rio de Janeiro, em novembro passado. 
Assim, se um quarto de século foi suficiente para transformar Mandela de prisioneiro e rebelde (inclusive pela rainha da Inglaterra) em um ícone da paz e da liberdade (pela mesma rainha da Inglaterra), as notícias recentes divulgadas no último ano sinalizam que poderemos fazer algo semelhante pela ciência - mais especificamente a Imunologia - no Brasil.


"Valeu, Zumbi, o grito forte dos Palmares
que correu terras céus e mares
influenciando a abolição (...).
Zumbi valeu, hoje a Vila é Kizomba,
é batuque, canto e dança, jongo e maracatu (...).
Anastácia não se deixou escravizar,
o pagode é um partido popular.
Sacerdote ergue a taça,
neste evento que congrassa
gente de todas as raças numa mesma emoção
Festa Kizomba é nossa constituição (...)
Vem a lua de Luanda para iluminar a rua
Nossa sede é nossa sede
e que o Apartheid se destrua!"

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