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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Impacto e Ousadia

Ciência de 'Alto Impacto'  (http://img.terra.com.br)
Andou rolando pela rede um texto do Herton Escobar a respeito de uma conferência da Marcia McNutt, editora-chefe da Science, no Fórum de Mundial de Ciência que aconteceu no Rio de Janeiro no final de novembro. Nessa entrevista ela dizia que 'A ciência brasileira precisa ser mais corajosa e mais ousada se quiser crescer em relevância no cenário internacional'. 


Ouvi muita gente discutindo se ela estava certa, errada, se a Ciência no Brasil é ousada (de um modo geral), ou não, blá blá blá. Também houve muita gente discutindo porque não se consegue publicar (de um modo geral) em revistas de alto impacto no Brasil. Uns culpam o sistema. Outros culpam a panelinha. Outros dizem que a culpa é dos editores. Há quem acredite que isso é parte de uma conspiração que prenuncia a chegada dos alienígenas ao poder.

Eu acho que o problema é que a pergunta está um pouco distorcida. Já perdi as contas de quantas pessoas me perguntaram isso. Minha resposta é sempre a mesma: para se publicar em revistas de alto impacto (que por sinal não tem nada a ver, na minha opinião, com o chamado fator de impacto), é preciso fazer Ciência que tenha impacto. Então, deveria-se perguntar qual o impacto da Ciência produzida no Brasil. 

Uma pergunta leva à outra e a próxima seria o que é Ciência que tem impacto. Novamente, e essa opinião é pessoal, Ciência que tem impacto é aquela que é capaz de mover (sacudir) uma determinada área, seja mudando a maneira pela qual as pessoas pensam sobre um determinado problema, seja oferecendo um jeito novo de gerar informação relevante. Pra poder fazer esse tipo de Ciência, a gente tem que ter um certo 'mindset'. Primeiro, a pessoa tem de saber o que está acontecendo de interessante em Ciência (em geral). Segundo, a pessoa tem de saber perguntar perguntas interessantes. Nesse sentido, eu acho que um bom cientista tem de ser um bom leitor, no sentido Borgiano da expressão. Se a pessoa não lê, como vai saber o que é interessante, o que já foi feito, o que é repetição, o que é variação de um mesmo tema? Terceiro, a pessoa precisa colaborar. Encontrar gente com o mesmo 'mindset' mas com diferente expertise. Estamos em 2013, quase 2014. Não dá prá viver na redoma da imunologia, num universo cheio de micróbios, neurônios, epitélios, câncer, 'name your favorite non-immunological cell'... Quarto, a pessoa precisa de dinheiro. Não tem jeito. Se o dinheiro é pouco, o jeito é usá-lo do melhor jeito possível e colaborar. E por último, tem de saber transmitir a mensagem e ser insistente. 

Uma das minhas maiores decepções é ver que a Ciência no Brasil não decola, embora tenha tudo para decolar. Tem gente boa, capaz, inteligente, uma massa crítica crescente, tem espaço, tem sol e tem praia. Claro, tem problemas, tem corrupção, tem um sistema pré-histórico de avaliação científica, não tem uma indústria que dê suporte local ao crescimento científico... Mas mesmo assim, acho que é importante não adotar uma atitude passiva. Olhar para modelos de outros países emergentes na Ciência, mas também desenvolver uma política realista, baseada em fatos, que se adeque à realidade nacional. Para isso é inevitável perguntar (e responder) a questão inicial: 'qual é o impacto da Ciência brasileira?' E se você não estiver satisfeito com a resposta, perguntar o que fazer para mudar.

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