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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Ousadia, inovação e multidisciplinariedade vs organismos multi-resistentes

De acordo com artigo publicado no Science Translational Medicine, agosto de 2012, o uso da técnica de sequenciamento de genoma total combinado à bioinformática levaram um grupo multidisciplinar de pesquisas do NIH a identificar uma cepa de Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenemase – resistente a drogas de última escolha –, rastrear seu curso de infecção entre pacientes e em equipamento hospitalar e efetivamente conter um surto que matou 11 pacientes no principal hospital de pesquisa dos Estados Unidos, o Clinical Center do National Institutes of Health (NIH, Bethesda, MD).

No meio do surto, em 2011, Evan Snitkin, um pós-doutorando bioinformata escutou colegas conversando sobre o surto no laboratório, no National Human Genome Research Institute (NHGRI) do NIH. Ele então conversou com sua chefe, a pesquisadora de microbioma humano Julia Segre, a qual participou do Projeto Genoma Humano, e disse que achava que poderia resolver o problema utilizando a técnica de whole-genome sequencing dos isolados. Um total de 18 pacientes seriamente comprometidos adquiriram a bactéria, sendo que sete morreram da infecção.

Segre levou a sugestão a Tara Palmore, epidemiologista do Clinical Center, a qual tentava conter o surto que havia driblado todas as medidas de controle. Eles então se uniram, sequenciaram as bactérias e Snitkin construiu o algoritmo que revelou como o microorganismo havia entrado e se disseminado pelo hospital. Isto possibilitou-lhes adotar as medidas que contiveram o surto.

A cepa da bactéria Klebsiella pneumoniae contendo o gene da carbapenemase foi identificada como pertencente à linhagem epidêmica ST 258, detectada pela primeira vez no Clinical Center do NIH em Junho de 2011 em uma paciente que havia sido transferida de uma clínica em Nova York. Os médicos do hospital do NIH pensaram que haviam tomado as devidas precauções para prevenir a disseminação, mas outro paciente pouco tempo depois adquiriu a bactéria.

Após o segundo paciente ser infectado, Palmore e seu grupo tomaram medidas de precaução cada vez mais rigorosas para tentar conter a disseminação da infecção. “Foram momentos extremamente estressantes uma vez que a bactéria era tão resistente e parecia quase impossível de ser tratada”. Apesar dos esforços, ainda não havia explicação de como a bactéria estava se disseminando e de onde tudo havia começado. Foi aí que Segre e seu grupo entraram em cena.

A partir do sequenciamento do DNA da bactéria de cada um dos pacientes, o grupo foi capaz de rastrear a cepa à paciente de Nova York, a fonte primária. Combinados com dados de rastreamento epidemiológico tradicionais, os resultados do sequenciamento total do genoma mostraram que a bactéria foi transmitida a outros pacientes em 3 ocasiões separadas. Palmore então tomou medidas ainda mais estritas de controle da infecção e iniciou uma vigilância que cobriu todo o hospital. Estas medidas incluíram o uso de vapor de peróxido de hidrogênio para fumigar e higienizar os quartos, isolamento mais cuidadoso dos pacientes e das pessoas que cuidaram destes e lavagem de mãos rigorosamente reforçada. Além disso, os pacientes foram tratados com antibióticos da classe carbapenema, as drogas de último recurso às quais as bactérias eram resistentes, mas que tiveram alguma eficácia no tratamento dos pacientes infectados.

Agora Segre, Palmore, Snitkin, e o médico David Henderson, que colaborou com Palmore no controle da infecção, são finalistas na concorrência à medalha Samuel J. Heyman Service to America, um dos maiores prêmios que um funcionário federal pode receber. “Seu avanço inovador vai agora impactar o mundo e virar referência. Temos uma nova arma na grande batalha contra os organismos multi-resistentes a drogas”, declarou o diretor do NIH Francis Collins no artigo que anunciou a nominação. Este uso inovador da genômica pode transformar radicalmente a forma como infecções hospitalares são identificadas e contidas, levando a uma resposta mais rápida e salvando milhares de vidas.



 Julia Segre, David Henderson, Tara Palmore e Kevin Snitkin


Fontes:
Snitkin ET AL., Tracking a Hospital Outbreak of Carbapenem-Resistant Klebsiella pneumoniae with Whole-Genome Sequencing, Sci Transl Med. 2012 Aug 22;4(148):148ra116. doi: 10.1126/scitranslmed.3004129.
Benderl, Postdoc's Alertness Key to "Groundbreaking" Advance, Science Career Magazine, August 02, 2013, 10.1126/science.caredit.a1300159.

Post por Ester Roffê, Pós-doc, Laboratório de Imunologia, CPqRR/Fiocruz-MG

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