BLOG DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE IMUNOLOGIA
Acompanhe-nos:

Translate

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Efeito da acupuntura no sistema imune de idosos

Moisés Bauer, professor do Instituto de Pesquisas Biomédicas da PUC-RS, vem estudando a relação entre estresse, sistema imune e envelhecimento. Em trabalho publicado recentemente na Neurosci Lett (leia resumo aqui), Bauer investigou o efeito da acupuntura em variáveis psicológicas e na proliferação linfocitária, em indivíduos adultos e idosos, ambos sadios. Os principais resultados do trabalho foram: a acupuntura foi eficiente em diminuir o estresse, tanto em adultos quando em idosos. Após as seis sessões de acupuntura, os linfócitos T de idosos aumentaram significativamente sua capacidade proliferativa, o que não foi observado com os linfócitos T de adultos. Leia abaixo uma breve entrevista com Bauer.

1. O que acontece com o nosso sistema imune quando envelhecemos?
Existe uma re-organização de quase todas as funções imunológicas ao longo do envelhecimento, com impacto maior na imunidade adaptativa baseada em células T. Muitas pessoas atribuem a imunossenescência com funções diminuídas e isso não é verdade. Por exemplo, existe um aumento de citocinas pró-inflamatórias no envelhecimento e acúmulo de células T de memória, com imunidade intacta aos antígenos mais antigos durante a nossa vida.

2. O Sr vem estudando estresse, sistema imune e envelhecimento. Quais têm sido suas principais conclusões sobre o impacto do estresse em idosos? Qual é a fonte de estresse em idosos?
A principal conclusão é de que o estresse psicológico acelera o processo de imunossenescência através do aumento de glicocorticóides endógenos (cortisol) e diminuição de DHEA (dehidroepiandrosterona). A fonte de estresse é variada e inclui a depressão associada a perda de parentes queridos assim como a exclusão social. Talvez envelhecer seja ver o mundo gradualmente mais em P&B. Temos um dever social de tentar atenuar este processo, trazendo um pouco mais de cor aos idosos, principalmente aqueles com transtornos afetivos.

3. Sobre o trabalho publicado agora na Neuroscience Letters, quais são os próximos passos? Vocês pretendem medir a secreção de neurotransmissores e hormônios em resposta ao tratamento com acupuntura?
Acho que isso seria uma ideia interessante. Gostaríamos de avaliar os níveis de cortisol e adrenalina após uma intervenção de acupuntura. Nossos dados são ainda preliminares, mas apontam as próximas direções nesta área de pesquisa. Estudos duplo-cegos randomizados são necessários.

4. O Sr comenta no trabalho sobre possíveis mecanismos para explicar como a acupuntura levaria ao aumento da proliferação de linfócitos, possivelmente levando a um aumento da secreção de IL-2. Como aconteceria tal aumento de IL-2? Acredito que esta regulação está associada a modulação de neurotransmissores e hormônios induzidos pela acupuntura. Por exemplo, a acupuntura aumenta a secreção de noradrenalina e serotonina, neurotransmissores implicados na patofisiologia da depressão maior. A acupuntura estimula nervos sensoriais, produção de opióides endógenos e sistema nervoso autônomo. Sabemos hoje que todas essas vias regulam diretamente o sistema imune. Como verificamos um relaxamento muito importante após as sessões de acupuntura, espero encontrar níveis mais reduzidos de cortisol nestes sujeitos.

5. Os céticos possivelmente perguntariam: o aumento da proliferação de linfócitos observada após acunputura não poderia ser explicado por conta da agulha? E a comparação (tanto imunológica quanto psicológica) de pessoas que não receberam tratamento com acupuntura?
Neste estudo não utilizamos um controle sham (p. ex. com agulhas na superfície da pele) e essa dúvida permanece para ser esclarecida nos próximos estudos. Contudo, saliento que a proliferação linfocitária dos idosos foi completamente restaurada aos níveis observados nos jovens e isso é fantástico. Não conheço nenhum estudo atribuindo um efeito psicológico a restauração completa da imunidade das células T. Os nossos resultados sugerem que existe uma plasticidade nas células T envelhecidas e possibilidades de regulação são uma promessa real.

Comente com o Facebook :

2 comentários:

  1. Estudo interessante, porem faltou a comparacao com o placebo. Uma meta-analise sobre este assunto seria esclarecedor

    ResponderExcluir
  2. Anônimo, o próprio Bauer destaca que seus resultados são preliminares e ressalta a importância de estudos duplo-cegos randomizados, com controles sham.

    ResponderExcluir

©SBI Sociedade Brasileira de Imunologia. Desenvolvido por: