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quinta-feira, 8 de julho de 2010

Efeito da deficiência de nutrientes na resposta Th1 vs Th2


Post de Johan van Weyenbergh
Foi publicado recentemente um artigo interessante sobre a influência de deficiências de micronutrientes na resposta Th1 vs Th2, na malária. O balanço Th1 vs Th2 tem sido valorizado na resposta a diversos patógenos e o estudo dos fatores capazes de influenciar a predominância de um dos braços se reveste, assim, de interesse.
O trabalho Effect of nutrient deficiencies on in vitro Th1 and Th2 cytokine response of peripheral blood mononuclear cells to Plasmodium falciparum infection (Malaria Journal 2010, 9:162; doi:10.1186/1475-2875-9-162) utilizou células mononucleares do sangue periférico de crianças (6 a 72 meses de idade) foram estimuladas por hemácias parasitadas por P. falciparum e as respostas de grupos de indivíduos com ou sem deficiências de micronutrientes foram comparadas. A deficiência de zinco se associou com um aumento da produção de TNF e IFN-g, enquanto a deficiência de magnésio se associou com o aumento da produção de IL-13 e redução de IFN-g. 
Há várias publicações sobre tais efeitos em diferentes enfermidades, mas tem havido pouco aprofundamento nos mecanismos que explicariam estas observações (Kocyigit et al., 2002; Amini et al., 2009; Malafaia et al, 2009,). Trabalho anterior do nosso grupo, em leishmaniose (Zinc/copper imbalance reflects immune dysfunction in human leishmaniasis: an ex vivo and in vitro study BMC Infectious Diseases 2004, 4:50; doi:10.1186/1471-2334-4-50) demonstrou um decréscimo dos níveis plasmáticos de zinco em pacientes com leishmaniose tegumentar e também nos pacientes com leishmaniose visceral, em relação aos controles. Também foi notada uma elevação dos níveis plasmáticos de cobre. As razões Cu/Zn foram mais altas em pacientes com resposta imunocelular deficiente (VL<ex vivo de IFN-g (após estímulo com antígeno de leishmania) e correlacionou negativamente com os níveis plasmáticos de cobre.
Gostaríamos de salientar que este sistema ex vivo consiste no estimulo das células do sangue total, incluindo a resposta inata (neutrófilos), e mais importante: o plasma autologo contendo, entre outros, os micronutrientes (no caso da VL e LCL: o Cu em excesso), anticorpos, complemento etc. No sistema in vitro usado por Mbugi et al. (e também na maioria dos trabalhos estudando a resposta imune in vitro nas doenças infecciosas) apenas os PBMC são estimulados, e sempre na deficiência de Zn, já que o meio de cultura não o contem e o plasma/soro (humano ou bovino) e acrescentado em apenas 2-10% (resultando em 1-2 ug/ml de Zn em vez de 10-20 ug/ml em plasma não-deficiente.
O trabalho de Mbugi et al. é baseado nos resultados do estímulo in vitro de PBMCs do impressionante numero de 304 crianças de área endêmica para P. falciparum. Porém, devemos interpretar estes dados com cautela, devido a  falhas e omissões neste trabalho:
1. Os dados das citocinas foram duplicados/desdobrados em dois manuscritos (um sobre produção em 24h, outro sobre produção aos 7 dias de cultura, incluindo marcação intracelular), ambos publicados na Malaria J com um mês de diferença. No entanto, no artigo de maio os autores declaram que as amostras foram coletadas num intervalo de tempo único e que não era possível determinar a fonte celular. “The design of our study does not allow time-dependent production of cytokines, or to establish specific cell subsets are sources of the cytokines measured.”;
2. No artigo de maio, a interpretação da significância estatística é altamente inovadora (um limite de p=0.15 é usado para determinar a significância). No artigo de junho, faltam os dados da Tabela 2 com os valores do p;
3. Não são mostrados os dados do estimulo com eritrócito não-infectado (controle negativo) e anti-CD3/CD28 (controle positivo), apesar do provável efeito das deficiências de micronutrientes sobre esta resposta, de acordo com diversos trabalhos publicados por outros grupos. Tampouco são mostrados ou comentados os dados da quantificação intracelular das citocinas, a possível correlação com sobrenadante ou a sua possível associação com deficiências;
4. Os valores são muito baixos para todas as citocinas, para algumas mesmo abaixo do limite de detecção do método usado (CBA): 2 pg/ml para IL-12, 3 pg/ml para TNF, 3 pg/ml para IL-10;
5. Os autores não comentam sobre a possível influencia do heme (p.ex. dados do nosso grupo: Andrade et al. J Immunol 2010) derivado dos eritrócitos infectados usados neste estudo;
6. A maioria dos trabalhos (Mbugi et al., o nosso e vários outros) dosam Zn plasmático e não sérico, por causa da hemólise (pode aumentar o Zn e Fe liberado das hemacias);
7. Finalmente, apesar das conclusões sugeridas nos dois manuscritos, os autores comprovaram o contrário da hipótese formulada. Ou seja, que as deficiências em micronutrientes NÃO são associadas a resposta imune (produção de citocinas in vitro). “In none of these cases, however, was such interaction supported by statistical evidence, as indicated by the high P-values in Figures 2 and 3. In other words, there is no evidence that the relationships between nutrient markers and cytokines depend on malarial infection.” Com o n impressionante deste estudo, parece bastante comprovada esta falta de associação, ou pelo menos dentro da metodologia proposta por Mbugi et al.

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